TRATE A FILANTROPIA COMO TRATA SEUS INVESTIMENTOS

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Gabriel Zugman (*)

 

Há algum tempo, participei do Congresso Brasileiro de Governança Corporativa, evento promovido anualmente pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em que se discutem as melhores práticas de gestão adotadas pelas empresas.

 

Um dos momentos mais esperados do evento era a palestra de Elie Horn, fundador da Cyrela, uma das maiores incorporadoras imobiliárias do país,com ações negociadas em Bolsa. O título da palestra era “Reflexão sobre a responsabilidade do empresário”.

 

Enquanto muitos esperavam que o entrevistado dedicasse o tempo que lhe fora reservado no evento para tratar dos cuidados que o empresário deve ter na gestão do seu negócio, durante aproximadamente uma hora, o palestrante falou sobre fazer o bem. Fazer o bem, disse ele, não importando qual fosse o gesto específico ou mesmo a intenção do agente ao praticá-lo. Só interessa que seja o bem.

 

Entre os diversos conselhos, dois, em especial, me marcaram.

 

O primeiro deles foi: “faça o bem por meio de ações que toquem o seu coração”. Isto porque é muito mais fácil manter a dedicação a uma causa quando o agente guarda algum nível de identificação com ela ou, de alguma maneira (que muitas vezes não conseguimos explicar, mas sentimos), ela toca especialmente o seu ser.

 

No caso do palestrante, um de seus projetos mais recentes é o resgate de meninas da prostituição infantil, em especial em regiões do Nordeste brasileiro. Sensibilizado com a situação, o filantropo criou uma ONG que se dedica ao atendimento de jovens envolvidas nessa situação de risco. O problema havia “tocado seu coração”, em suas palavras.

 

O segundo conselho: “trate a filantropia como trata seus investimentos”. Para um projeto filantrópico dar certo, explicou o palestrante, ele deve ser tratado como se trata um negócio: ter planejamento financeiro, estratégico, um time competente na sua gestão e, acima de tudo, deve haver cobrança por resultados.

 

Passado algum tempo, dia desses me deparei com um artigo publicado no jornal New York Times intitulado “Want to help? Do your research before you donate” (Quer ajudar? Faça sua pesquisa antes de doar). Em certo trecho, o autor escreve “(...) ache uma organização com uma missão clara e resultados comprovados. Trate suas doações como seus investimentos e tenha um portfólio balanceado. Acima de tudo, siga sua paixão, de causa a causa”.

 

Concluí, portanto, que as ideias que havia escutado no evento não eram algo isolado, mas o eco de uma fala universal. O empresário, independentemente da representatividade de suas operações, é um agente com imenso potencial de transformação social. A teia de pessoas impactadas pela atividade da sua empresa vai de funcionários a clientes, de acionistas a fornecedores. E a filantropia – por que não? – também pode estar neste pacote, de modo a atingir ainda mais pessoas.

 

Ao “praticar o bem”, a empresa, por vezes, tem alguma vantagem tributária ou um ganho de reputação. Aliás, às vezes, esses efeitos são a própria razão para a tomada de decisão de participar de alguma ação social, em um mundo empresarial em que, como não poderia deixar de ser, a meta maior é o lucro. Mas isso não importa. O importante é fazer o bem.

 

 

(*) Gabriel Zugman é advogado sócio de DMGSA (Domingues Sociedade de Advogados), com atuação na área do Direito Societário, mestre em Direito Empresarial e Cidadania e membro da Comissão de Direito Empresarial da OAB/PR