Guilherme Amaral*
Os primeiros sinais do governo federal em formação são positivos. Redução da máquina estatal, combate à corrupção, indicações técnicas para cargos públicos e criação de um bom ambiente de negócios são exemplos disso. O mesmo não se pode dizer da tendência relacionada à política externa, cuja promoção sem conotação ideológica foi uma das bandeiras da campanha de Bolsonaro.
A indicação do diplomata Ernesto Araújo para o Ministério das Relações Exteriores, coloca a ideologia no centro da política externa brasileira. O que é pior, vincula-a a uma ideia de mundo retrógrada.
O futuro chanceler entende que há um “projeto globalista” em curso, cujo objetivo seria transferir o poder econômico do Ocidente para o que chama de “China maoísta” – em referência a Mao-Tse-Tung, líder comunista que governou a China até seu falecimento, em 1976.
Essa “China maoísta”, contudo, não existe mais. A partir da política de abertura iniciada por Deng Xiaoping há 40 anos, a China adotou práticas de mercado que revolucionaram o país, que pulou do 10º para o 2º lugar entre as maiores economias do mundo, devendo assumir a ponta já na próxima década. Hoje, a iniciativa privada na China contribuiu com mais de 60% do PIB e 80% dos empregos no país.
Como se não bastasse, há 10 anos a China é o maior parceiro comercial brasileiro, respondendo por 26,7% das exportações e 19,7% das importações em 2018, com balança comercial favorável ao Brasil. O volume de soja brasileira exportado para a China é quatro vezes maior do que aquele destinado para todos os demais países somados. O investimento chinês no Brasil em 2017 foi de 24,7 bilhões de dólares, mais do que o dobro do investimento americano no mesmo período.
Temos nesses próximos anos a oportunidade única de reerguer um país que foi à lona por quase duas décadas de políticas equivocadas e corrupção endêmica. É por isso que o Brasil não pode se dar ao luxo de errar, ainda mais em área tão sensível. Como dizia Deng Xiaoping, “não importa se o gato é preto ou branco, desde que pegue o rato”. O momento exige mais pragmatismo e menos ideologia.
* sócio de Souto Correa Advogados